Tem de ficar desde já claro que este é daqueles restaurantes que costumamos visitar com frequência. Já há uns bons anos que descobrimos este restaurante e de todas as vezes (certamente mais de dez) que o visitámos saímos completamente satisfeitos com a refeição. O que nos levou a procurá-lo foi a sua presença numa lista de melhores comidas em Espanha publicada na revista semanal EPS do El País "50 pistas gastronómicas", por José Carlos Capel.
Este restaurante tem, mal se entra, uma barra (balcão) onde se pode tomar uma bebida e um canto que comporta três mesas pequenas, duas para duas e uma para quatro pessoas. De realçar que a cozinha (pequena) fica na outra extremidade do balcão relativamente à posição das mesas referidas. Caso subam as escadas à esquerda da entrada irão dar a uma sala de refeições no primeiro piso da casa. No verão também existem mesas numa esplanada contígua à casa.
Nas duas primeiras idas ao restaurante ficámos na sala do primeiro andar. No entanto, daí para a frente passámos a ficar sempre nas mesas junto ao balcão pois desta forma garantimos que o que pedimos chega-nos sempre quente, logo após ter sido cozinhado. Verificámos com o passar do tempo que se tornava cada vez mais difícil encontrar mesa disponível, tendo passado a ligar antes a marcar mesa.
Comidas
Uma característica desta casa é não variar muito a ementa. No entanto, tudo é cozinhado com um cuidado e conhecimento que nos surpreende. Talvez a maior surpresa vai para a forma como o peixe é frito, com uma farinha especial, não ficando com gordura nenhuma e tendo-se a garantia que é frito no ponto de forma a garantir a cozedura do peixe e a manutenção do seu pleno sabor. Ah muito importante, não se dá pela presença de sal.
Para nós as refeições no Alhucemas encontram-se a meio termo do menu tradicional a um menu de degustação (que na realidade não existe).
Há pratos que se tornaram incontornáveis, como iniciar com uma salada de lavagante, numa mistura perfeita de pequenos pedaços de lavagante, um pouco de maionese, verduras partidas em pequenos pedaços, incluindo alface. Um gosto tão perfeito e equilibrado que não conseguimos esquecer.
E o que dizer da perfeição dos fritos, uns pequenos salmonetes com uma fritura mais que correcta e com o sabor do peixe e frescura do mesmo no máximo (por vezes tão pequenos que se comem por inteiro). Também as puntillitas ou os boquerones fritos atingem a mestria que poucos outros locais o conseguem.
A provar também as castañuelas à la plancha (muito pequenos chocos grelhados), onde, se perdermos a vergonha, não dispensaremos passar com o pão na pequena quantidade de molho da sua tinta com o azeite.
O pincho de cordero não é mais do que um pequeno espeto com 6 pequenos pedaços de cordeiro. No entanto, experimente-o e vai ver que o molho que tem um ligeiro sabor a caril e contém umas verduras, dá há carne macia um óptimo sabor.
Dá-se desde já a informação que o arroz é confeccionado para duas pessoas, e destacamos o arroz meloso con calamares y gambas com um óptimo sabor e mais de molho do que de caldo. É um arroz tão guloso que nos deparamos a servirmo-nos quase até ao último grão do tacho. O arroz negro é também uma excelente escolha apesar de o anterior ser o que nos mais satisfaz.
Não poderíamos deixar de falar do excelente Cus-cus. Sabemos que há quem diga mal do mesmo por ter muitos poucos pedaços de carne, no entanto, quer o cus-cus quer os legumes, quentes e com um molho tão saboroso que se desfazem mal os pomos na boca, levam-nos a pronunciar um humm de plena satisfação paladar.
Para sobremesa a imperdível mousse de tourrón. É mesmo boa e ainda não encontrámos nenhuma que se aproxime dela. Mas, também não resistimos a provar e gostámos da mousse de limão, pastel de queso (pudim de queijo), arroz con leche (arroz com leite), poleá. Somente não nos encheu as medidas, mas estava bem efectuado, o milhojas (mil folhas), folhado com recheio de creme de natas, açucarado para o nosso gosto.
Isto tudo não se prova numa visita, assim, caso goste, ficará certamente a pensar já na próxima visita ao Alhucemas.
Bebidas
Na Andaluzia, especialmente na zona de Sanlúcar de Barrameda (próximo de Jerez de La Frontera), existe um vinho de aperitivo com que se inicia muito bem uma refeição, é a Manzanilla.
De realçar um bom vinho branco que nos foi dado a conhecer por um casal Espanhol muito simpático que se encontrava no restaurante. O vinho é frutado, de casta malvasia, das Canárias, Lanzarote, chama-se Bermejo e existe seco e meio seco. Este vinho acompanha muito bem peixe essenciamente nos dias quentes.
Já estamos, mais uma vez, com vontade de regressar.
E a última vez que regressámos foi em Outubro de 2010. Uma surpresa, houve obras no restaurante. O local do restaurante é o mesmo mas a porta de entrada mudou de sítio, há uma nova cozinha, mais espaçosa, e uma nova sala de refeições muito agradável, discreta, bonita, arejada, e luminosa com janelas grandes para o exterior. No entanto, a sala do primeiro andar manteve-se.
Quanto à comida a qualidade de sempre.
Uma Manzanilla fresca e saborosa para começar, vinho aperitvo de Sanlúcar de Barrameda. A salada de lavagante, os salmonetes fritos, as espetadas de cordeiro com um molho de especiarias especial, e o cus-cus todos excepcionais. A terminar uma mousse de tourron magistral, em sabor e textura aveludada. Somente o café não atinge os píncaros do resto da refeição.
De referir ainda a o óptimo serviço em que o encadeado dos pratos cai no preciso momento. E com a casa completa. Porque será que em Portugal ainda é raro encontrar um restaurante que cumpra estes requisitos. E ainda por cima quem mais cumpre em Portugal não são os restaurantes mais requintados e caros mas sim os mais simples e tradicionais em que os donos estão presentes e ao seu comando.
A consistência da excelência é de premiar e aqui temos o previlégio de encontrá-la. Voltaremos certamente.
Localização de Sanlúcar la Mayor:
